E então, ela olha para o espelho e decide, como a libélula tatuada no centro de seu colo, ser livre e mudar de vida - conforme o significado da tatuagem de libélula. Ela vê alguém com um grande potencial, maior do que aquele que podia ser visto no espelho. Ela rasga as roupas que não pretende mais usar, coloca fogo e promete a si mesma que é a última vez.
É a última vez que o medo dos homens vai lhe atormentar. AD AETERNUM NUNCA MAIS. Sua próxima tatuagem seria o corvo, o que diz NEVERMORE (NUNCA MAIS).
E então, cantarolou em frente ao espelho a canção que escrevia em seu imaginário, a sua própria canção de libertação. Ela já não era mais uma barata, como no conto de Franz Kafka, ela era agora uma libélula. E, em breve, um corvo.
Canção da liberdade de uma ex prostituta:
Não sou espelho de prostíbulo.
Não sou quem você pensa que eu sou.
Não vou refletir o que você ousa me obrigar a refletir.
Não faço parte deste prostíbulo.
Você nasceu. Não é culpa minha. Não sou a sua mãe. Nem seu pai. Nem seu espelho.
Não me culpe se você é o prostíbulo.
Se você é útero, vulva, ovário, clitóris, vagina, ânus, bunda, seios e rosto. Onde está sua humildade?
E sua humanidade? Onde está você?
Se perdeu em seu corpo?
E o espelho? Continua no prostíbulo?
Não sou você. Meu espelho não reflete sua imagem. Nem a sua cenoura invisível. Você nem precisa saber quem eu sou.
Só precisa saber que eu não sou espelho de prostíbulo para refletir a sua imagem.
Se prepare para ser corpo, apenas corpo. E gritos. Se prepare para a baixaria.
Você também é cordas vocais e dedos afiados.
E é o reflexo no espelho do prostíbulo. E o dinheiro em seu bolso. Você bem sabe que não quer isso.
Não sou espelho de prostíbulo.
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