Não basta ser feia, tem que ser inconveniente. A garota dos cabelos castanho-escuro extremamente lisos e totalmente bagunçados bem sabia que o era.
De boca fechada era muito desinteressante. Mas alguém sempre tem que puxar assunto. Até perceberem que a própria pessoa sabe o quão chata ela é, e por isso prefere o silêncio.
"Sou como um personagem daquele seriado. Tudo é culpa minha. Ninguém gosta de mim. Sou muito burra. Deveria ter feito diferente. Não assisto novela. Fiz minhas unhas. Minha pele oleosa. Meus braços másculos. Minhas sobrancelhas horríveis. Minhas pernas finas. Minha postura de malandro. Minha cara de homem. Cara de quem não gosta de mulher. Meu corpo desproporcional. Minhas unhas mal feitas. Só sei procrastinar. Não fiz nada legal na vida. Não sou da realeza. Nunca fui em festas. Ninguém me ama. Os poucos amigos que eu tinha se afastaram de mim".
E vai indo a mulher feia, sabendo do quão chata é, falando dos defeitos como se ninguém pudesse percebê-los claramente. A cara fechada, como se tivesse um odor no ar. O odor é dela. E ela sabe, mas nada faz para mudar.
Até que um dia a feia cansou de tudo e de todos. Cansou até de seu silêncio. E parou de tentar ser como as outras pessoas, porque ela é feia, as outras pessoas se esforçam para não ser como ela, e para serem legais, pelo menos. Ela não se esforça, então merece ser isolada do mundo,com uma camisa de força.
Foi assim que ela pensou um dia. E assim resolveu viver, porque sim. E é verdade.
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