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10 de setembro de 2019

Lá vem vocês III

A minha própria mente está me pregando peças e me deixando presa no passado e, tenho de ser a única pessoa compreensiva comigo mesma, já que todo mundo diz: segue a vida, supera, já foi. Como se eu não quisesse tirar isso da minha mente. Aí eu vou, brigo comigo mesma, depois enxergo que talvez a única pessoa que possa estar realmente do meu lado seja eu mesma. Afinal, estou nesse corpo e nessa alma 24h por dia, sentindo o que sinto e vendo prontamente tudo que estou passando. Para quê ficar me rendendo à impaciência alheia? Infelizmente minha mente não trabalha com "logo" e sim com "calma".
"logo" é uma doença, não é? você entra na graduação já querendo formar logo, trabalhar logo, fazer pós logo. Então você quer um relacionamento logo também porque na sua idade sua avó tinha 18 filhos e você sequer beijou alguém. E quanto mais "logo" você acumula, mais doente você fica, porque logo é um veneno. A gente apenas aceita e "segue em frente".
E então mais uma vez fiquei doente e a única coisa que consigo pensar é: quero sair desse hospital, porque perdi provas, trabalhos e quero terminar a graduação logo. Na cama de um hospital, sou obrigada a ficar em paz LOGO mas eu só quero sair LOGO porque tenho provas da faculdade para fazer. 
O que tenho feito da minha vida? 
Por que de repente, a faculdade consegue ser muito mais importante do que a minha saúde física e mental? 
E mais: vou falar sobre setembro amarelo. E lá vem o logo e a faculdade de novo. Ele era um garoto sensível, perdeu a mãe havia 5 anos, mas ninguém queria ouvi-lo mais falar da saudade dela, chorar, ter raiva. Os "amigos" diziam para ele superar porque já foi, já passou, e que chorar é coisa de "viadinho" e 
não deveria chorar mais pelo mesmo motivo, afinal já havia passado 5 anos. 
E então, sensibilizada pelo desabafo dele, e naquela vibe de setembro amarelo na época, eu disse: você pode falar comigo sempre que quiser, pode falar como se eu fosse sua mãe e pode me chamar até de mãe se quiser. Ele riu. Sabe o que é fazer uma pessoa tão triste dar risada? E, sim, ele passou a me chamar a de mãe, virou zoeira. O que me deixava mais leve ao vê-lo sorrir e brincar. 
Então, ele me mandou as músicas de "viadinho" (vulgo pessoas normais que têm sentimentos e devem expressá-los independente de gênero): cedo ou tarde, duas lágrimas (guarde o seguinte verso para as próximas palavras: "como seria a minha vida sem a sua para me alegrar?", era o verso favorito dele porque o fazia lembrar de mim) entre outras músicas de "emo viadinho". 
Um belo dia, estava eu fazendo trabalhos, estudando para a faculdade, sem tempo para sair no final de semana, porque queria estudar logo para me formar logo e ter uma vida bem sucedida logo. 
Ele perguntou se a gente podia sair, tomar um sorvete, ir ao Ibirapuera bater um papo, porque eu era a única que realmente o ouvia e respeitava seu tempo de cura, sem cobrar que ele seguisse logo em frente porque já foi. 
Já imaginam o que respondi, né? 
"Não posso, não tenho tempo, preciso fazer as coisas da faculdade, na próxima a gente marca, no final do semestre, nas férias". 
Então o logo deu espaço ao "depois". Deixei para depois a vida porque quero me formar logo. Vida? Desperdício de tempo, tempo que eu deveria usar para estudar e ser uma profissional exemplar, porque isso sim é o que realmente importa. 
Ele é adulto e vai superar.
Ele não precisa de mim. 
Ele é homem e homem não é tão emocional quanto a mulher. 
Essa a importância de um único dia. Quando o "depois" chegou e eu finalmente podia sair com ele, vi sua linha do tempo: mensagens póstumas. Ele se foi. Ele se matou. E não havia mais "depois", não havia mais "logo". Acabou.
Custava ter tirado um dia para ouvi-lo? Só um dia. Um único dia. 
Supera isso logo, foi em 2017, ja foi. Acordaaa anos se passaram. 
E com tanto logo, deixei a vida para depois, os amigos para depois, meus sentimentos para depois, a saúde, a sanidade mental, deixa tudo para depois que logo dou um jeito de resolver essa vida logo.
Há quem diga que eu deveria desistir da faculdade porque está me consumindo e me deixando doente. As mesmas pessoas que passam pelos mesmos perrengues que eu, independente do ambiente. Sufocadas pelo "logo" e pelo "depois". Atribuindo a culpa de toda a sua miséria a qualquer coisa. Como se fosse culpa de algo ou alguém. Até sua mesmo. Por que tudo dá tão errado? Você se pergunta. E refletindo sobre desistir da faculdade, percebo que o problema não é a faculdade.
Estamos doentes, reféns do logo e do depois. E nem é culpa nossa. A única solução é: aposente o logo e o depois.  Apenas viva.
Não desista da vida, apenas faça ela acontecer. AGORA. Não logo, nem depois. AGORA. Eu falei AGORA. "Pode me chamar de mãe se quiser". Fala: "tá bom, mãe, já vou, já vou".
Carta de suicídio? JAMAIS! Essa é a minha carta de vida. Vou viver MUITO ainda. Por muito não falo em anos, porque é só um número e não diz nada sobre o que realmente é viver. Vou viver muitos "AGORA" e se alguém me chamar AGORA, sairei correndo atrás para ouvir. Independente de quem seja e se nos veremos novamente. Namoro ou amizade? Por que pensar a longo prazo? Chamarei de "momento". Só um momento. Um único dia. O dia que pode fazer toda a diferença. Mesmo que seja apenas um momento.
Não escolhi nascer, mas escolho viver".

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