Não, você não vai ficar para sempre. Não porque a vida é passageira, efêmera e você é mortal, mas porque eu não quero.
Não vou deixar, nem permitir, nem lhe dar todo o acesso ao que há em mim.
Eu sei quem sou, já fui e ainda sou muito melhor que isso. Não vou deixar que você me domine assim.
Você quer me guiar e me fazer acreditar que é o fim, mas é apenas o início. O suado, sofrido, dolorido e estanque início.
Ainda que meu sangue escorra, meu estômago me corroa, minhas lágrimas queimem e meu coração dispare. Não é o fim, não vou deixar você me fazer acreditar que é o fim.
Ainda que muitos corajosos botem fim ao sofrimento, à dor e ao desamor, ainda não é o fim.
Vejo seu rosto em cada memória, agora borrado, sua voz já não é doce e terna, é uma voz distorcida, que fiz questão de esquecer.
Seu abraço acolhedor, agora é frio e duro feito mármore, incômodo como unhas em lousa, ferrenho como suporte enferrujado.
Não são braços, são ferros, e a eles estou presa, foi um acidente. Sou vítima presa às ferragens. Você não é vítima também, você foi a causa, a agressão e o que me impede de sair para a vida que tenho
à frente. Posso lhe deixar ser a causa da morte, mas posso lhe tirar sozinha ou esperar que a pessoa no lugar certo, apareça e me tire de lá, ainda com vida. Alguém que saiba o que fazer em um caso de crise como esse.
Não é você que vai me tirar dali, você é ferro enferrujado, sangria não estanque, não é vivo, não é vítima, é causa, agressão.
Você não vai ficar para sempre. Não se eu não permitir.
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