Quando acordei, era de manhã. Corri para a minha casa. Perdi a aula. Perguntei a minha mãe se ela tinha visto a Mary, e ela disse que a viu à noite, na minha janela e que depois disso, ela voltou de manhã e dormiu na minha cama.
Corri para o meu quarto. Havia um gato de pelagem cinza, dormindo e ronronando sob minha cama. Havia uma coleira amarela em seu pescoço, onde estava escrito: "Mary". Espera, Mary não era uma pessoa?
Eu sempre achei que fosse minha melhor amiga. Minha vida por algum motivo não está fazendo sentido ultimamente. Se Mary era uma gata, Luís era o quê?
"Luís passou aqui, para vocês irem à escola juntos, mas você não estava. Achei que você tinha dormido na casa dele".
"Luís? É, o Luís". Como assim, dormido na casa dele? Isso não poderia estar mais confuso.
"Ué, seu namorado. Normal que durma na casa dele. Às vezes, porque sempre eu não permito, ouviu?"
"Meu namorado. É, Luís. Meu namorado, claro". Continua não fazendo sentido.
"Você tá estranha hoje. O que fez?"
"Encontrei meu pai. Ele é morador de rua".
"Seu pai ligou da Nova Zelândia. Ele continua lá. Olha, é natural que sinta saudades e que o veja em vários lugares por ai, mas ele escolheu viver lá".
"Mãe, é sério, era ele. Posso te levar até ele, se quiser".
"Um mendigo? Me poupe, Juanna. Olha, você fez muita bagunça no seu quarto com essa brincadeira toda. Aproveita que matou aula e arruma. Daqui a pouco vem a Karol aqui. O que ela vai pensar?"
Pelo menos Karol era real. Espero que seja, pelo menos. Havia cachaça espalhada pelo meu quarto. Alguns gazes, velas e a touca que o mendigo usava. Cheirava a cebola pobre. Coloquei tudo no lixo. Tinha um papel escrito: "19". O que era 19? Guardei no bolso. Talvez tivesse alguma ligação com a Mary. Eu sinto que existe uma Mary, a minha melhor amiga, e que essa história dela ser uma gata é fruto da minha imaginação. Assim como o fato do Luís ser meu namorado.
Mais tarde, Karol chegou. Era amiga da minha mãe. Tinha uns 30 anos e traços orientais. Minha mãe deu uma quantia em dinheiro a ela, para pagar minhas aulas de piano. Piano? Não era japonês?
Esperei mais um tempo, acreditando que a "verdadeira" Karol apareceria. Pelo jeito aquela era a verdadeira.
Espero que tudo faça sentido algum dia.
Até mais,
Juanna.
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