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22 de julho de 2018

Charlatanismo, malandragem? Sobre o que é o livro Casa de Pensão, de Aluísio Azevedo?

O livro Casa de Pensão, de Aluísio de Azevedo (1883) retrata o Rio de Janeiro (RJ) como uma cidade perigosa, cheia de gente malandra, disposta a enganar de todos os jeitos possíveis na tentativa de obter qualquer quantia em dinheiro, objetos valiosos e até pessoas que possam fornecer algum status.
Mostrou que os ricos, os burgueses, não queriam estudar de verdade, então compravam títulos para adquirir algum status e iam viver sua vida de "jovens". Consideravam "fazer esforço" nos estudos coisa de pobre desesperado por dinheiro. E como não precisariam se preocupar com dinheiro, não precisavam se esforçar nos estudos.
Os ricos, como Amâncio, não queriam ficar na casa de pensão por ser um ambiente familiar, com regras e cuidados com hóspedes, típicos de uma família. Então decidiram morar numa república com os amigos da faculdade, pois era onde ele conseguiu maior liberdade para viver uma vida libertina, sem regras e sem uma família regulando tudo o que ele fazia.
João Coqueiro e Madame Brizard casaram-se não porque se amavam, mas porque João precisava voltar aos estudos e uma esposa talvez fosse o que ele precisava para sair da tristeza em que se encontrava. Mostrando assim um casamento por interesse da Madame Brizard em restaurar o brio juvenil de João Coqueiro e permitir que ele tivesse um futuro melhor, realizando seus sonhos de terminar os estudos e trabalhar com algo que ele gostava.
Desde a época do livro, a cidade do Rio de Janeiro é retratada como uma cidade com bastante propaganda sobre ela, mas uma decepção para os visitantes, por não apresentar tamanha beleza.
Outro ponto importante foi que o livro foi escrito antes da abolição dos escravos, e portanto, antes das favelas existirem, e já existia o medo da violência, mostrando que as cidades já eram temerosas antes das favelas.
As mulheres sofriam assédio escancarado e, embora tivessem receio em procurar ajuda policial, comunicaram pessoas próximas ao assediador sobre o assédio. Ninguém tinha uma postura direta, porque era uma vergonha para a mulher ser assediada e porque o homem via isso como uma brincadeira de moleque ou de jovem, como se fosse saudável.
Também foi retratado o casamento por esperteza, não por amor. Por exemplo: Nini tinha uma doença e precisava se casar antes de morrer para dar esse gosto à família e para o marido arcar com os gastos, então precisava de um marido que ganhasse bem para arcar com os custos do tratamento.
Entre outros assuntos houve uma comparação entre provincianas e mulheres da corte: os debates lembravam os atuais Mulheres Experientes VS Mulheres Inexperientes e também Mulheres da favela VS Mulheres de outras partes da cidade.
Sendo as provincianas o lado das faveladas e a corte, o lado das mulheres em melhores condições financeiras e culturais.
Os escravos são vistos de forma humana: enquanto diversas obras retratavam escravos como um animal de estimação ou como objeto, nessa obra há uma visão mais humana deles, ou seja, sente-se que são insubstituíveis: se forem perdidos ou mortos, não é só comprar novos, porque podem não despertar a mesma estima, nem possuir as mesmas habilidades, os mesmos cuidados e carinho com seus senhores e senhoras.
A história fala de ansiedade, especialmente no caso de Amâncio, que faz Medicina e tem que estudar matérias como física e química. E o quanto ele dorme mal, e quando consegue dormir tem pesadelos.
Mostra a esperteza da burguesia muito antes da libertação dos escravos, o que para muitos autores foi quando começou a "malandragem", mas, claramente, não foi, pois já existia muito antes.
Mostra uma moça revoltada com a injúria do amante, buscando tirar vantagem dele, por tê-la "desonrado". E, ao descobrir certa traição - como os dois são forçadamente um casal, já que ela o força a ficar com ela - fica ainda mais furiosa do que quando ele havia declarado que não tinha vontade de se casar com ela nem manter qualquer tipo de relacionamento.
Usa seu irmão mais velho a seu favor, coagindo-o a acreditar que Amâncio é um traidor. E tenta entrar na justiça para tirar mais proveito do amante.
Como Amélia não era menor de idade quando começou a ter relações com Amâncio, entraram em tribunal alegando que Amâncio abusava sexualmente com uso de violência física e prometeu que repararia tais danos com juras de casamento.
Mostrando, assim, mais uma tentativa de obter vantagem em cima do antigo amante, já que ele já não tinha mais interesse amoroso por ela.
Amâncio denunciou a extorsão que sofreu de Amélia por tê-la "desonrado".
João Coqueiro tenta vingar a desonra da irmã e Amâncio virou um símbolo de vendas de jornais, roupas e acessórios a lá Amâncio, mostrando assim uma sociedade que lucra até com a morte de alguém.
Nada tão diferente do nosso cotidiano.

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